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Este espaço, aberto pela equipa Coordenadora da Biblioteca da Escola Secundária de Castelo de Paiva, destina-se a partilhar opiniões, experiências e aspirações, que permitam melhorar o trabalho desenvolvido no âmbito das Bibliotecas escolares.

segunda-feira, janeiro 30, 2006

Bocage

Há duzentos anos, em 1805, morreu o homem que veio a ser considerado o poeta mais completo do século XVIII – Bocage. Este nosso poeta distinguiu-se sobretudo pela sua maneira de escrever, pelo uso constante da sátira nas suas obras.
Bocage não se encaixa numa corrente literária definida. Os seus sonetos revelam uma certa confusão de escrita e forma. Usa vocabulário de várias correntes, nomeadamente, pré-romântica e neoclássica.
A sua fama ultrapassou a barreira do tempo e ainda hoje se fala constantemente dele. Quem não conhece uma anedota sobre uma façanha de Bocage? É esta a sua faceta mais conhecida, embora não corresponda à realidade.
A sua poesia demonstra admiração pelos ideais da Revolução Francesa. Por isso mesmo foi acusado pela Inquisição de ser “destruidor de costumes”.
Admiro-o. Bocage nunca teve medo de arriscar. Disse sempre o que pensava, embora a crítica estivesse camuflada. A verdade é que as suas ideias não foram bem aceites na sua época.
O que importa reter da vida deste poeta é realmente a sua coragem e evidentemente o seu talento!
Como todos os “heróis” teve um fim bem dramático! Apesar do apoio de alguns amigos, Bocage morreu só, doente e na miséria!
Não sou pessimista! Apenas admiro a construção clássica, a suavidade de frase, a melodia dos sons, a modulação e a cadência do verso, que nos sensibiliza pela sua naturalidade. Para deleite pessoal, transcreve-se o soneto, que traduz um pouco a sua vida:

Apenas vi do dia a luz brilhante
Lá de Túbal no empório celebrado,
Em sanguíneo carácter foi marcado
Pelos Destinos meu primeiro instante:

Aos dois lustros a morte devorante
Me roubou, terna mãe, teu doce agrado;
Segui Marte depois e enfim meu fado
Dos irmãos e do pai me pôs distante:

Vagando a curva terra, o mar profundo,
Longe da pátria, longe da ventura,
Minhas faces com lágrimas inundo:

E, enquanto insana multidão procura
Essas quimeras, esses bens do mundo,
Suspiro pela paz da sepultura.
Joana Freitas – 12.º F

1 Comments:

Anonymous Anónimo said...

DESCOBRIR BOCAGE

Durante muitos anos, fui construindo a minha imagem de Bocage. Era uma imagem feita de anedotas e de pequenas histórias caricatas, pintadas de palavras obscenas, que a minha avó me contava, quase secretamente. A imagem de um boémio, de um vagabundo e de um homem livre.
Já estudante do liceu, encontrei um Bocage diferente: o Bocage da sensibilidade pré-romântica, em que a Natureza é metáfora do tumulto interior. Nos seus versos, encontrei as superstições populares, o equilíbrio da forma e a agonia de um «eu» que se confessa. Descobria, aos poucos, o homem inadaptado a uma sociedade que o desprezava, como já fizera com Camões e como tantas vezes faz aos grandes génios. Encontrava, em muitos sonetos, a erudição do «Elmano Sadino», uma espécie de «nome de código», adoptado ao entrar para a Nova Arcádia. O nome arcádico homenageia o Sado e a cidade onde nasceu, Setúbal, em 1765.
Bocage renasce, agora, depois de comemorarmos o segundo centenário da sua morte, na série homónima da RTP. Em cada episódio, descobrimos a personalidade multifacetada de um dos nossos maiores poetas, simultaneamente popular, erudito e, sem dúvida, controverso.

Luís Pinto Salema

janeiro 30, 2006  

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